O avanço da inteligência artificial (IA) trouxe ganhos em produtividade, mas também elevou os custos ambientais relacionados ao funcionamento dos data centers. Pesquisas recentes apontam que o consumo de energia e água para treinar e operar modelos de linguagem de última geração já se equipara ao gasto de milhões de lares.
De acordo com estimativa da Universidade de Rhode Island, o ChatGPT-5 pode consumir energia equivalente ao uso diário de 1,5 milhão de residências nos Estados Unidos. Em comparação com a média brasileira, o impacto corresponderia a cerca de 7,5 milhões de lares.
Cada consulta ao modelo pode demandar até 40 watt-horas (Wh), um aumento de até 20 vezes em relação ao GPT-3, que consumia em torno de 2 Wh por interação. Somadas as 2,5 bilhões de requisições diárias, o impacto se torna expressivo.
O treinamento do modelo também exige alto gasto energético: entre 20 e 25 megawatts ao longo de três meses, o que representa aproximadamente 1.800 megawatt-horas (MWh).
Pegada hídrica do funcionamento
Além da eletricidade, a IA consome água principalmente para resfriamento dos servidores. Segundo declarações de Sam Altman, CEO da OpenAI, cada consulta ao ChatGPT consome cerca de 0,34 Wh de eletricidade e 0,000085 galão de água. Multiplicado pelo volume de interações diárias, o número alcança dezenas de milhões de litros.
Estudos como o “Making AI Less Thirsty” (Ren et al., 2025) já haviam demonstrado que treinar um modelo como o GPT-3 poderia consumir até 5,4 milhões de litros de água, incluindo uso direto em data centers e indireto na geração de energia.
Cenário global de energia e IA
O aumento do consumo não se limita a um modelo. A Agência Internacional de Energia (IEA) projeta que os data centers globais possam atingir 945 TWh/ano até 2030, quase o dobro do nível atual, com a IA respondendo por boa parte desse crescimento.
Nos Estados Unidos, levantamento do Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL) estima que os data centers possam representar entre 6,7% e 12% do uso nacional de eletricidade até 2028.
No caso da água, as projeções indicam que o consumo dos centros de dados no país pode dobrar ou quadruplicar até 2028, alcançando entre 150 e 280 bilhões de litros por ano.
Reação das big techs
Empresas do setor têm anunciado metas para mitigar os impactos. O Google promete atingir neutralidade hídrica até 2030 e afirma ter reposto 64% da água consumida em 2024.
A Microsoft anunciou data centers “zero-água” para cargas de IA, utilizando resfriamento por ar e sistemas fechados. Já a AWS informou redução do índice de uso de água (WUE) para 0,15 L/kWh e aposta no reaproveitamento de água reciclada.
Desafios à sustentabilidade da IA
Especialistas alertam que, embora cada consulta individual represente baixo consumo, a escala massiva de acessos, somada ao custo energético do treinamento, levanta dúvidas sobre a sustentabilidade da IA generativa.
O debate agora gira em torno da eficiência dos modelos, da necessidade de transparência no reporte de dados pelas empresas e das políticas públicas para regular o impacto ambiental da tecnologia.
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