Presidente criticou sanções dos EUA, defendeu o Judiciário brasileiro, rejeitou anistia a golpistas e destacou necessidade de reforma da ONU
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (23), durante discurso de abertura da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, que a democracia e a soberania brasileiras são “inegociáveis”. A fala foi marcada por recados diretos ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e por críticas a ataques ao Judiciário do Brasil.
Tradicionalmente, o Brasil é o primeiro país a discursar na abertura do debate geral da ONU, posição mantida desde 1947.
Em sua fala, Lula condenou o que classificou como “ingerência em assuntos internos” e disse que “a agressão contra a independência do Judiciário brasileiro é inaceitável”.
Críticas a Trump e sanções dos EUA
O discurso de Lula ocorreu um dia após os Estados Unidos ampliarem sanções contra autoridades brasileiras. O governo Trump revogou o visto do advogado-geral da União, Jorge Messias, e aplicou sanções financeiras a Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, que já havia sido alvo de restrições em julho.
Sem citar nominalmente os EUA, Lula criticou a política de sanções unilaterais. “Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra.
Existe um evidente paralelo entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia”, declarou.
O presidente também rebateu a sobretaxa de 50% imposta por Washington sobre produtos brasileiros. Para ele, medidas dessa natureza “não têm justificativa” e “fragilizam a cooperação internacional”.
Defesa da democracia e do Judiciário
Lula disse que o Brasil respondeu às tentativas de golpe ao reafirmar a independência das instituições.
“Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há 40 anos após duas décadas de ditadura”, afirmou.
O petista também rejeitou a possibilidade de anistia a condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023.
“Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade”, disse.
Pauta internacional
Além das críticas a Trump, Lula abordou outros temas de alcance global:
- Mudanças climáticas: convidou líderes mundiais a participarem da COP30, em Belém (PA), em 2025.
- Gaza: declarou que “nada justifica genocídio” e defendeu o fim imediato da violência contra civis palestinos.
- Reforma da ONU: defendeu maior representatividade no Conselho de Segurança e criticou o que chamou de “política do poder”.
- Redes sociais: afirmou que é urgente regulamentar plataformas digitais para conter a desinformação.
O discurso de Lula acontece em meio à pior crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos em décadas. O governo Trump tem endurecido medidas contra autoridades brasileiras após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe.
Trump, por sua vez, tentou sem sucesso interferir no julgamento de Bolsonaro, o que foi interpretado pelo governo brasileiro como ataque à soberania nacional.
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