“Nossa democracia e soberania são inegociáveis”, diz Lula na ONU em recado a Trump

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa na abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU em Nova York
Lula durante discurso de abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, onde afirmou que “nossa democracia e soberania são inegociáveis” (Foto: Mike Seggar/Reuters)

Presidente criticou sanções dos EUA, defendeu o Judiciário brasileiro, rejeitou anistia a golpistas e destacou necessidade de reforma da ONU

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (23), durante discurso de abertura da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, que a democracia e a soberania brasileiras são “inegociáveis”. A fala foi marcada por recados diretos ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e por críticas a ataques ao Judiciário do Brasil.

Tradicionalmente, o Brasil é o primeiro país a discursar na abertura do debate geral da ONU, posição mantida desde 1947.

Em sua fala, Lula condenou o que classificou como “ingerência em assuntos internos” e disse que “a agressão contra a independência do Judiciário brasileiro é inaceitável”.

Críticas a Trump e sanções dos EUA

O discurso de Lula ocorreu um dia após os Estados Unidos ampliarem sanções contra autoridades brasileiras. O governo Trump revogou o visto do advogado-geral da União, Jorge Messias, e aplicou sanções financeiras a Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, que já havia sido alvo de restrições em julho.

Sem citar nominalmente os EUA, Lula criticou a política de sanções unilaterais. “Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra.

Existe um evidente paralelo entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia”, declarou.

O presidente também rebateu a sobretaxa de 50% imposta por Washington sobre produtos brasileiros. Para ele, medidas dessa natureza “não têm justificativa” e “fragilizam a cooperação internacional”.

Defesa da democracia e do Judiciário

Lula disse que o Brasil respondeu às tentativas de golpe ao reafirmar a independência das instituições.

“Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há 40 anos após duas décadas de ditadura”, afirmou.

O petista também rejeitou a possibilidade de anistia a condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023.

“Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade”, disse.

Pauta internacional

Além das críticas a Trump, Lula abordou outros temas de alcance global:

  • Mudanças climáticas: convidou líderes mundiais a participarem da COP30, em Belém (PA), em 2025.
  • Gaza: declarou que “nada justifica genocídio” e defendeu o fim imediato da violência contra civis palestinos.
  • Reforma da ONU: defendeu maior representatividade no Conselho de Segurança e criticou o que chamou de “política do poder”.
  • Redes sociais: afirmou que é urgente regulamentar plataformas digitais para conter a desinformação.

O discurso de Lula acontece em meio à pior crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos em décadas. O governo Trump tem endurecido medidas contra autoridades brasileiras após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe.

Trump, por sua vez, tentou sem sucesso interferir no julgamento de Bolsonaro, o que foi interpretado pelo governo brasileiro como ataque à soberania nacional.

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