O calor extremo e a fumaça dos incêndios florestais já provocam centenas de milhares de mortes a cada ano no mundo, segundo o relatório Contagem Regressiva em Saúde e Mudanças Climáticas, publicado nesta quinta-feira (29) pela revista científica The Lancet em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com o estudo, 546 mil pessoas morrem anualmente em decorrência do calor, e 154 mil em razão da exposição à fumaça de incêndios florestais, dados referentes ao ano de 2024.
O documento reúne contribuições de mais de 100 cientistas de diversos países e alerta que os impactos da crise climática estão ameaçando a saúde e a vida da população global.
“Com os impactos das mudanças climáticas aumentando, a saúde e a vida dos 8 bilhões de habitantes do mundo estão agora em risco”, destaca o relatório.
2024: o ano mais quente da história
O relatório mostra que 2024 foi o ano mais quente já registrado, com 12 dos 20 indicadores globais de risco à saúde atingindo níveis sem precedentes.
Entre 2020 e 2024, as pessoas foram expostas, em média, a 19 dias de calor extremo por ano, sendo 16 deles causados diretamente pelo aquecimento global.
Os pesquisadores pedem uma redução drástica no uso de combustíveis fósseis e das emissões de gases do efeito estufa, além de ações de adaptação climática urgentes para proteger as populações mais vulneráveis.
Situação no Brasil e na América Latina
No Brasil, 7,7 mil mortes por ano foram associadas à fumaça dos incêndios florestais entre 2020 e 2024.
No mesmo período, 3,6 mil mortes anuais estiveram relacionadas ao calor extremo, segundo o levantamento.
O país teve ainda uma média de 15,6 dias de onda de calor por ano, e 94% desses dias não teriam ocorrido sem o aquecimento global, apontam os cientistas.
O relatório também registra que 72% das terras brasileiras passaram ao menos um mês sob seca extrema por ano, número quase dez vezes maior do que nas décadas de 1950 e 1960.
Em nível regional, a temperatura média da América Latina atingiu 24,3°C em 2024, o maior valor já observado. Isso resultou em 13 mil mortes anuais relacionadas ao calor.
Adaptação é “inegociável”, dizem os cientistas
O estudo defende que a adaptação climática deixou de ser opcional e tornou-se “uma necessidade essencial e inegociável” para reduzir os riscos, aumentar a resiliência e combater as desigualdades socioeconômicas.
“Construir um futuro resiliente exige transformar fundamentalmente nossos sistemas de energia e reduzir nossa dependência de combustíveis fósseis”, afirma o relatório.
O documento também cita o Brasil como “um farol de esperança e transformação”, destacando o papel estratégico do país como sede da COP30, que será realizada em Belém (PA) a partir de 10 de novembro.
“O Brasil tem uma oportunidade única de liderar ações de adaptação e mitigação climática que priorizem a saúde, promovendo o desenvolvimento sustentável e o bem-estar para todos”, conclui o texto.
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