Uma nova evidência agrava a crise de credibilidade no julgamento do 58º Festival Folclórico de Parintins. A jurada Hylnara Anny Vidal Oliveira, integrante do corpo de avaliação do Bloco B (Cênico/Coreográfico), copiou integralmente a mesma justificativa para dois itens distintos: Boi-Bumbá Evolução e Porta-Estandarte, ambos da noite de 27 de junho.
Apesar de tratarem de temas diferentes, o primeiro avalia a movimentação articulada do boi de pano em arena, enquanto o segundo trata da performance individual do brincante que conduz o estandarte, as justificativas atribuídas aos bois Caprichoso e Garantido foram transcritas com o mesmo conteúdo.
A única diferença entre as duas folhas está no título do item, já as notas atribuídas são as mesmas: 9,9 para o Caprichoso e 10 para o Garantido nos dois casos.
A duplicação do texto reforça a principal denúncia feita pelo Caprichoso antes do festival: que Hylnara teria solicitado receber, previamente, as justificativas e as notas “prontas” para apenas copiá-las nos cadernos, prática que comprometeria a individualidade da avaliação e violaria frontalmente o regulamento do evento.

Caprichoso alertou sobre jurados antes da disputa
No dia 25 de junho, a Associação Cultural Boi-Bumbá Caprichoso protocolou duas impugnações formais à Comissão Organizadora. A primeira questionava a participação do jurado Marcos dos Santos Moreira, por manter vínculo técnico e acadêmico ativo com Manoel Vieira Rocha Júnior, ex-jurado e articulador ligado ao Boi Garantido.
O documento apresentava provas de relação institucional contínua entre ambos, o que, segundo o artigo 13, §3º do regulamento, impede a atuação como jurado.
A segunda impugnação tinha como alvo a própria Hylnara, cuja inscrição teria ocorrido por indicação da professora Socorro Batalha, figura próxima à estrutura política do Garantido. Segundo relatório anexo ao pedido, Hylnara teria se comprometido, por meio de intermediários, a dar notas máximas ao Garantido e limitar a pontuação do Caprichoso a 9,5 ou 9,8.
A jurada também teria concordado em receber as justificativas e notas já redigidas para facilitar sua transcrição durante as apresentações.
O relatório ainda questiona a formação técnica da jurada, apontando que ela não atua na área cultural há mais de uma década, exerce atualmente o cargo de vendedora e não possui histórico comprovado de envolvimento com manifestações populares, o que também seria critério eliminatório segundo o regulamento.
Confira as denúncias na íntegra:
Presidente Rossy Amoedo deixou apuração e anunciou reação
Durante a leitura das notas no Bumbódromo, no domingo (30), o presidente do Boi Caprichoso, Rossy Amoedo, retirou-se da apuração ao perceber que as denúncias formalizadas anteriormente não foram levadas em conta.
Em nota, ele afirmou que alertou a organização do festival sobre os riscos de parcialidade e se disse indignado com a omissão diante de fatos documentados.
“Denunciamos com antecedência, apresentamos provas, nomes, vínculos. Mesmo assim, a Comissão manteve os nomes impugnados e expôs o festival a esse constrangimento. Agora, a credibilidade está comprometida”, declarou Amoedo.
Resultado pode ser judicializado e gerar anulação de julgamento
Com a vitória do Garantido homologada, mas cercada de controvérsias, a diretoria do Caprichoso confirmou que vai recorrer ao Ministério Público do Amazonas para solicitar a anulação do julgamento da edição de 2025.
A petição deve incluir os documentos já entregues à organização do festival, as folhas de votação com justificativas duplicadas, os relatórios de análise técnica sobre os jurados impugnados e o regulamento oficial.
A decisão sobre uma eventual reavaliação ou anulação do resultado dependerá agora de desdobramentos jurídicos. Enquanto isso, a torcida azul mobiliza-se nas redes sociais com críticas à condução do festival e apoio à judicialização do caso.
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