Pesquisa da Frente Parlamentar Mista da Educação, em parceria com o Equidade.info, revela que um terço dos municípios brasileiros não cumpre o piso salarial do magistério, enquanto metade dos educadores da base não são reconhecidos pelos gestores como docentes.
Atualmente, o piso nacional do magistério está fixado em R$ 4,8 mil. No entanto, o levantamento mostra grandes disparidades regionais: 45% das cidades do Sudeste descumprem esse valor, enquanto 80% dos municípios do Nordeste e 73% dos do Norte garantem o piso.
Reconhecimento simbólico: “tia” ou “pedagogo” em vez de “professor”
Para o professor Guilherme Lichand, coordenador do Equidade.info e docente da Stanford Graduate School of Education, a remuneração insuficiente reflete o desprestígio estrutural da profissão:
“Se um terço dos municípios ignora o piso, será que os outros dois terços realmente pagam? Na educação infantil, a vulnerabilidade é maior, porque muitos desses profissionais sequer são considerados professores.”
O estudo apontou que apenas 48% dos gestores de creches e pré-escolas identificam esses profissionais como docentes. A maioria, 52%, usa termos como “tia” ou “pedagogo”, reforçando a ideia equivocada de que seu trabalho não é educativo.
Na região Sul, 99% dos gestores reconhecem os profissionais como professores. No Sudeste, nenhum dos entrevistados usou essa nomenclatura para educação infantil.
Diferenças por rede de ensino e propostas legislativas
Nas redes estaduais de ensino, o reconhecimento é unânime: todos os gestores entrevistados disseram chamar os profissionais de “professores”. Já na rede privada, apenas 1 em cada 3 gestores adota esse termo, e na rede municipal 51% o utilizam.
Para a deputada Professora Luciene Cavalcante (PSOL‑SP), o problema é tanto simbólico quanto estrutural:
“É urgente assegurar o enquadramento das educadoras de creche no magistério, reservar parte do tempo para formação continuada e assegurar valorização salarial e de direitos.”
Sobre a pesquisa
O levantamento ouviu 280 gestores de escolas da educação básica, públicas e privadas, entre maio e setembro de 2025, com margem de erro de 5,1 pontos percentuais. Foram incluídas escolas rurais e urbanas, exceto as ligadas aos sistemas prisional e socioeducativo.
Destes, 36% das escolas oferecem educação infantil (creche e/ou pré‑escola). A oferta exclusiva de pré-escola prevalece em redes municipais (52%) e privadas (53%), especialmente no Centro-Oeste (42%).
Nas redes estaduais, a oferta de educação infantil é mínima (3%). No Nordeste, 15% das escolas oferecem creche e pré-escola simultaneamente.
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