Brasileiros evitam falar de política no WhatsApp por medo de conflitos

Pessoa segura celular com aplicativo WhatsApp aberto, ilustrando a redução do debate político em grupos no Brasil.
Estudo aponta que brasileiros evitam falar de política no WhatsApp por medo de conflitos e ambiente considerado agressivo. (Foto: Freepik)

O compartilhamento de conteúdos sobre política tem diminuído em grupos de WhatsApp no Brasil, especialmente entre familiares, amigos e colegas de trabalho. Além disso, mais da metade dos usuários afirma sentir receio de emitir opiniões políticas nesses espaços por considerar o ambiente hostil.

Os dados fazem parte do estudo “Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens”, divulgado nesta segunda-feira (15).

A pesquisa foi realizada pelo InternetLab, centro independente de pesquisa, em parceria com a Rede Conhecimento Social, ambas instituições sem fins lucrativos.

De acordo com o levantamento, 54% dos usuários participam de grupos de família no WhatsApp, 53% de grupos de amigos e 38% de grupos de trabalho.

Já os grupos voltados especificamente ao debate político representam apenas 6%, número inferior ao registrado em 2020, quando eram 10%.

Ao analisar o conteúdo desses grupos, os pesquisadores identificaram uma queda consistente na circulação de mensagens sobre política, políticos e governo entre 2021 e 2024.

Nos grupos de família, o percentual de pessoas que afirmavam ver esse tipo de conteúdo caiu de 34% para 27%. Entre amigos, a redução foi de 38% para 24%. Já nos grupos de trabalho, a queda foi de 16% para 11%.

A pesquisa reuniu depoimentos de participantes, sem identificação. Uma mulher de 50 anos, de São Paulo, relatou que o grupo familiar evita deliberadamente discussões políticas.

“Evitamos falar sobre política. Acho que todos têm um senso autorregulador ali, e cada um tenta ter bom senso para não misturar as coisas”, afirmou.

Medo de se posicionar

O estudo aponta que 56% dos entrevistados têm medo de expressar opiniões políticas no WhatsApp por considerarem o ambiente “muito agressivo”.

Essa percepção atravessa diferentes espectros ideológicos: 63% entre pessoas que se identificam como de esquerda, 66% entre as de centro e 61% entre as de direita.

Uma entrevistada de 36 anos, de Pernambuco, destacou o clima de confronto.

“Acho que os ataques hoje estão mais acalorados. Às vezes você fala alguma coisa e o pessoal não quer debater, já quer partir para a briga”, contou.

Como consequência, comportamentos de autoproteção se consolidaram. Segundo o levantamento, 52% dos usuários afirmam se policiar cada vez mais sobre o que dizem nos grupos, enquanto 50% evitam falar de política em grupos de família para escapar de conflitos.

Além disso, 65% dizem evitar compartilhar mensagens que possam ferir os valores de outras pessoas.

Quase um terço dos entrevistados (29%) já deixou grupos de WhatsApp por não se sentir confortável para expressar opiniões políticas.

“Tive que sair, era demais, muita briga, muita discussão, propaganda política, bateção de boca”, relatou uma participante.

Quem ainda fala sobre política

Apesar da retração geral, o estudo identificou que uma parcela dos usuários segue compartilhando conteúdos políticos mesmo diante do risco de conflitos.

Cerca de 12% afirmam publicar mensagens que consideram importantes, ainda que possam causar desconforto, enquanto 18% dizem compartilhar opiniões mesmo quando podem parecer ofensivas.

Entre os 44% que se sentem seguros para falar de política no WhatsApp, surgem estratégias para evitar conflitos: 30% usam humor para tratar do tema, 34% preferem discutir no privado e 29% falam apenas em grupos com pessoas que pensam de forma semelhante.

Uma das autoras do estudo, a diretora do InternetLab, Heloisa Massaro, avalia que o comportamento indica um amadurecimento no uso da plataforma.

Segundo ela, ao longo dos anos, os usuários desenvolveram normas próprias de convivência nos grupos.

“As pessoas se policiam mais e relatam um amadurecimento no uso”, afirma.

O levantamento foi realizado de forma online, com 3.113 pessoas com 16 anos ou mais, entre 20 de novembro e 10 de dezembro de 2024, em todas as regiões do país.

O estudo contou com apoio financeiro do WhatsApp, que, segundo o InternetLab, não teve qualquer interferência nos resultados.

*Com informações de Agência Brasil

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