Pesquisa: 35% dos brasileiros de baixa renda ficam sem internet por falta de dados

Pessoa usando smartphone para acessar a internet móvel
Estudo da Anatel e Idec revela que 35% dos brasileiros de baixa renda ficaram sem internet por falta de dados móveis. (Foto: Shutterstock)

Estudo da Anatel e Idec mostra que população de baixa renda enfrenta mais tempo sem conexão móvel por falta de dados

Uma pesquisa da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em parceria com o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) revelou a desigualdade no acesso digital no Brasil. O levantamento destaca que a falta de franquia de dados é o principal motivo para que milhões de brasileiros fiquem longos períodos sem internet móvel.

Tempo sem internet é maior entre os mais pobres

De acordo com o estudo, 35% das pessoas com renda de até 1 salário mínimo e 35,6% das que recebem entre 1 e 3 salários mínimos ficaram sete dias ou mais sem internet móvel nos 30 dias anteriores à pesquisa.

O cenário é ainda mais grave para os consumidores de menor renda: 11,6% ficaram mais de 15 dias desconectados, número quase seis vezes maior do que o registrado entre quem recebe acima de 3 salários mínimos (2,2%).

Impactos no cotidiano

A pesquisa mostra que a falta de franquia de dados e de acesso ao Wi-Fi teve consequências diretas na vida dos brasileiros:

  • 63,8% deixaram de usar serviços bancários ou financeiros;
  • 56,5% não acessaram plataformas do governo;
  • 55,2% ficaram sem estudar;
  • 52,3% deixaram de acessar serviços de saúde.

Custo e desigualdade no consumo de tecnologia

Outro ponto abordado é a disparidade na compra de celulares: 51% dos brasileiros que recebem até 1 salário mínimo usam aparelhos que custam menos de R$ 1 mil. Nas faixas de renda mais altas, predominam dispositivos mais caros.

Apesar disso, mais da metade dos entrevistados de todas as faixas declarou possuir o celular há menos de dois anos, indicando que boa parte da população tem aparelhos relativamente novos.

Já em relação aos computadores, 47,3% disseram não ter o equipamento devido ao alto custo. Outros 30% afirmaram não ter interesse ou não saber usar. Ainda assim, a preferência declarada é pelo uso de computadores em atividades como estudo, compras online e acesso a serviços públicos.

Satisfação e habilidades digitais

O levantamento também avaliou a satisfação dos consumidores:

  • Aparelho celular: 8,3
  • Habilidades digitais: 8,2
  • Infraestrutura de internet fixa e móvel: 7,6
  • Atendimento às necessidades de conexão: 7,8

Embora as notas sejam relativamente altas, a satisfação com as habilidades digitais foi menor entre idosos e pessoas com renda de até 1 salário mínimo, sugerindo um descompasso entre a autopercepção e as competências reais no uso de ferramentas digitais.

Declarações e recomendações

Para o coordenador do programa de Telecomunicações e Direitos Digitais do Idec, Luã Cruz, os dados evidenciam a necessidade de políticas públicas mais robustas:

“A promoção de conectividade significativa é essencial para a defesa e a promoção de direitos fundamentais.”

O advogado do Idec Lucas Marcon reforçou que mais de um terço da população fica sem internet por falta de dados móveis:

“A desigualdade também é refletida no setor de telecomunicações. Precisamos de uma política mais ampla de acesso à banda larga e outros meios de conexão que não sejam limitados.”

Já a conselheira diretora da Anatel, Cristiana Camarate, destacou que os resultados servem de guia para novas políticas:

“Os resultados da pesquisa apontam caminhos para aperfeiçoar iniciativas específicas de desenvolvimento da conectividade significativa, visando à inclusão digital de todos os cidadãos.”

Metodologia

O levantamento foi feito por telefone entre agosto de 2023 e junho de 2024, com 593 pessoas maiores de 18 anos, usuárias de telefonia celular (pré e pós-paga) ou banda larga fixa, utilizando o método CATI (Computer Assisted Telephone Interviewing).

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