Moradores da comunidade Santo Antônio, em Novo Airão (AM), denunciaram que a ONG norte-americana Global Thinkers Now utiliza fotos e vídeos de ribeirinhos sem autorização para pedir doações em dólares na internet.
Segundo eles, os recursos não chegam à localidade, situada dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro. O caso está em disputa judicial.
De acordo com relatos feitos à Rede Amazônica, a entidade publica campanhas on-line para captar recursos no exterior. A vice-presidente da comunidade, Marineuza Miranda Pontes, afirma que identificou sua imagem e a de outros moradores em materiais de arrecadação sem consentimento:
“A gente se sentiu lesado. A gente via que eles estavam crescendo. Não que isso gerou orgulho ou inveja pra gente, não. O que a gente queria é que os comunitários também fizessem parte disso. Que eles se desenvolvessem junto com eles. Essas fotos mostram aí”, relatou.
A Global Thinkers Now se apresenta como organização de assistência humanitária de base confessional com sede nos Estados Unidos.
Terreno doado e obras
Moradores informam que, em 2015, a Associação de Produtores Agrícolas de Santo Antônio doou um terreno de 5 mil m² para a construção de uma casa de apoio da ONG, mediante promessa de benefícios à comunidade.
Eles alegam que o espaço recebeu casas de alto padrão, com materiais e mão de obra externos, além de supressão de vegetação para terraplenagem.
O morador Elino Miranda descreveu a área: “Para planar terra, desmataram o mato. Aí tinha todo tipo de vegetação. Se andar ao redor, vai ver itaúba, louro, pé de angelim. Tudo na área onde não foi desmatado. Esses tipos de madeira tinham nessa área onde foi desmatado”.
Ações administrativas
Segundo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema), foi aplicada multa de quase R$ 60 mil em junho de 2025 e as construções foram interditadas.
Em entrevista, o secretário Eduardo Taveira afirmou: “Nessa ocasião, foi lavrado um termo de embargo e interdição, um embargo de qualquer e toda a atividade, bem como a interdição da ocupação do imóvel na área considerada irregular, em especial a área que foi constatada a degradação. Obviamente, as instanções administrativas foram aplicadas e aí foi dado o prazo regular para que a organização pudesse fazer a sua defesa. Uma vez dentro do um prazo, uma vez encaminhada a defesa, será analisado e os órgãos de fiscalização retornam através do embargo lavrado e efetivamente atendido”.
Disputa judicial
Após assembleia comunitária para revogar a doação do terreno, a ONG acionou a Justiça e pediu que o tema fosse retirado da pauta, afirmando que “o Brasil não é terra sem lei”.
O Tribunal de Justiça do Amazonas concedeu liminar proibindo intervenções no imóvel, com multa diária de R$ 200 em caso de descumprimento.
Para evitar custos com honorários, os moradores buscaram assistência da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), que passou a representá-los.
Em abril, a DPE-AM instaurou procedimento coletivo, determinou visita técnica, expediu ofícios à Sema sobre licenças na RDS Rio Negro e notificou a associação GTN Brasil (Global Thinkers Now Brasil) para prestar informações.
A comunidade Santo Antônio está inserida na RDS do Rio Negro, unidade de conservação estadual que admite uso sustentável conforme regras ambientais. A DPE-AM cita a criação da RDS pela Lei Estadual nº 3.355, de 26/12/2008, em portaria que trata do caso.
O que diz a ONG
Os responsáveis citados pelos moradores são o casal Beatriz Augusta e Robert Ritzenthaler. Segundo a reportagem enviada à redação, eles foram procurados por telefone e e-mail, mas não responderam até a última atualização. A organização não retornou aos contatos da imprensa consultada.
Nota da redação: Este texto reproduz as declarações de moradores e autoridades nas aspas originais e será atualizado em caso de manifestação da ONG ou novas decisões administrativas e judiciais.
*Informações do G1 Amazonas
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