A morte de Benício Xavier, de 6 anos, após quase 14 horas de atendimento no Hospital Santa Júlia, em Manaus, segue sob investigação e expôs uma série de falhas apontadas pela família e pela Polícia Civil.
O caso foi exibido neste domingo (7) pelo Fantástico, com imagens exclusivas que mostram parte do atendimento realizado no dia 22 de novembro.
Benício chegou ao hospital andando, com tosse seca e febre. A suspeita inicial era de laringite, quadro considerado comum na infância.
Segundo a mãe, Joice Xavier, o menino já havia sido atendido no mesmo hospital um mês antes, quando recebeu adrenalina por inalação.
Desta vez, porém, a prescrição médica indicou adrenalina intravenosa, uma forma de administração usada apenas em casos graves, como paradas cardiorrespiratórias.
Prescrição incorreta e sequência de falhas
A médica responsável pelo atendimento, Juliana Brasil Santos, prescreveu adrenalina pura, não diluída, aplicada diretamente na veia, totalizando 9 miligramas.
A dose é considerada elevada para quadros leves e, segundo especialistas, deve ser usada apenas em situações críticas, com monitoramento em terapia intensiva.
A família relata que, ao perceber o soro intravenoso, questionou a equipe sobre a ausência da inalação.
A técnica de enfermagem Raíza Bentes teria dito que também não estava habituada a administrar adrenalina na veia, mas que seguiria a prescrição.
Logo após receber a medicação, Benício apresentou palidez, desconforto e dor no peito. A técnica de enfermagem procurou a médica, que, segundo mensagens obtidas pela polícia, admitiu ter errado na prescrição: “Eu que errei”, escreveu a médica, que também confirmou o erro em relatório interno do hospital.
Evolução do quadro e tentativa de recuperação
Benício foi levado para a sala vermelha, destinada a emergências. Apesar de consciente em parte do tempo, apresentou dificuldade para respirar.
Horas depois, foi transferido para a UTI, onde foi intubado. O menino sofreu seis paradas cardíacas e não resistiu.
O pai, Bruno Mello de Freitas, acompanhou todo o processo. “Nenhum pai leva um filho para o hospital para morrer. Ainda mais da forma que o Benício morreu, dessa sucessão de erros”, disse ao Fantástico.
Investigação aponta falhas de checagem e ausência de farmacêutico
A Polícia Civil apura se houve homicídio culposo e responsabilização por negligência. O delegado Marcelo Martins afirma que houve “erro estrutural e sequencial de protocolos”, destacando a falta da dupla checagem da prescrição e a ausência de revisão por um farmacêutico da unidade.
O presidente do Conselho Regional de Farmácia do Amazonas, Reginaldo Silva Costa, afirmou que um farmacêutico teria condições de identificar a superdose e solicitar correção antes da aplicação.
Questionado se o menino foi vítima de um crime, o delegado afirmou: “Com certeza, um homicídio.
A médica emitiu uma prescrição e não revisou, que seria uma conduta básica. A técnica de enfermagem poderia ter realizado a dupla checagem”.
Posicionamento das profissionais e do hospital
A técnica Raíza Bentes, que trabalha há sete meses como técnica de enfermagem, afirmou que apenas seguiu a prescrição médica e disse que realizou o procedimento sozinha. Ela foi suspensa pelo Conselho Regional de Enfermagem e responde em liberdade.
A médica Juliana Brasil foi afastada do hospital. À Justiça, apresentou um vídeo alegando que o sistema eletrônico teria trocado, sem que ela percebesse, a adrenalina inalatória pela intravenosa.
O superintendente de TI do hospital refutou a alegação, dizendo que o sistema não altera prescrições sem ação humana.
O advogado da médica, Felipe Braga, afirmou que “houve falhas no sistema e nos procedimentos seguintes”, alegando múltiplos fatores envolvidos na morte do menino.
O diretor médico do Santa Júlia, Guilherme Macedo, declarou que a instituição trabalha em um plano de ação para evitar situações semelhantes.
amília aguarda resposta e cobra responsabilização
Benício era filho único e faria 7 anos no Natal. A família afirma que ainda não recebeu explicações completas do hospital e aguarda a conclusão das investigações.
“É uma dor muito grande que vou levar para a minha vida toda”, disse o pai.
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