Amazonas tem 259 etnias e Manaus lidera diversidade indígena entre capitais

Indígenas caminham em área rural; Amazonas tem 259 etnias, segundo o Censo 2022.
O Amazonas possui 259 etnias indígenas e é o segundo estado mais diverso do país, segundo o Censo 2022 do IBGE. (Foto: Mário Vilela/Funai)

O Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificou 391 etnias indígenas em todo o Brasil, número 28% maior do que o registrado em 2010, quando foram contabilizadas 305. O levantamento também mostrou a existência de 295 línguas indígenas, um retrato inédito da pluralidade étnica e linguística dos povos originários do país.

O crescimento expressivo revela não apenas o aumento da população indígena, mas também o fortalecimento dos processos de reafirmação identitária e reconhecimento étnico, impulsionados por movimentos sociais e aprimoramento das metodologias de coleta do IBGE.

Amazonas é o segundo estado com mais etnias

Com 259 etnias identificadas, o Amazonas é o segundo estado mais diverso etnicamente do Brasil, atrás apenas de São Paulo (271). O estado concentra também uma das maiores populações indígenas do país: 490.935 pessoas se autodeclararam indígenas em 2022, representando cerca de 30% de toda a população indígena brasileira.

Entre os municípios, São Paulo lidera com 194 etnias, seguida de Manaus, com 186, o que faz da capital amazonense a mais diversa da Região Norte.

Fora das capitais, o município de Iranduba (AM) também se destaca, com 77 etnias registradas.

O Amazonas abriga ainda o maior número de localidades indígenas do país: 2.571, o equivalente a quase um terço do total nacional, distribuídas entre Terras Indígenas e áreas urbanas.

Etnias mais populosas

De acordo com o IBGE, as etnias Tikúna (74.061 pessoas), Kokama (64.327) e Makuxí (53.446) são as três mais numerosas do Brasil. Todas possuem presença significativa no território amazonense.

Os Tikúna, por exemplo, estão concentrados na região do Alto Solimões, nas fronteiras com a Colômbia e o Peru, enquanto os Kokama vivem principalmente às margens do rio Solimões e em áreas urbanas de Manaus, Tefé e Tabatinga.

A etnia Yanomami, presente no norte do Amazonas e em Roraima, possui o maior percentual de população vivendo dentro de Terras Indígenas, 94,34% dos seus integrantes, enquanto os Tupinambá têm o menor índice, com apenas 1,21%.

Diversidade linguística e preservação cultural

O levantamento aponta que há 295 línguas indígenas faladas no Brasil, sendo Tikúna, Guarani Kaiowá e Guajajara as mais faladas. Somadas, essas três línguas concentram mais de 119 mil falantes.

O número de pessoas indígenas de cinco anos ou mais que falam uma língua indígena passou de 293.853 em 2010 para 433.980 em 2022, um crescimento de 47%.

Apesar disso, o percentual caiu de 37,3% para 28,5%, o que indica o avanço do português, especialmente entre as populações urbanas. Dentro das Terras Indígenas, porém, o número de falantes de línguas indígenas aumentou de 57,3% para 63,2%.

No Amazonas, o cenário linguístico é um dos mais ricos do país. Em municípios como São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, coexistem dezenas de línguas indígenas, o município do Alto Rio Negro, inclusive, é o único do Brasil com três línguas cooficiais reconhecidas por lei municipal: Nheengatu, Tukano e Baniwa.

“O Brasil tem uma diversidade étnica e linguística sem paralelo na América Latina. Essa pluralidade é resultado de processos históricos, de resistência e de reemergência identitária. Cada língua falada representa uma forma de ver o mundo”, afirmou Marta Antunes, gerente de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE.

Desafios sociais e educacionais

Apesar dos avanços no reconhecimento identitário, os indicadores sociais revelam desigualdades. Das 308 mil pessoas indígenas de 15 anos ou mais que falam língua indígena, apenas 78,5% são alfabetizadas, percentual inferior ao das pessoas indígenas em geral (84,9%).

Além disso, 5,4% das crianças indígenas de até cinco anos não possuem registro de nascimento, um número quase dez vezes maior que o da média nacional para a mesma faixa etária (0,51%).

Entre os grupos com mais crianças sem registro estão os Yanomami/Yanomán, com 3.288 sem documentação, e os Makuxí, com 748.

Outro ponto de preocupação é o acesso ao saneamento básico. A maioria dos Tikúna, Guarani-Kaiowá, Kokama, Makuxí e Guajajara vive em domicílios sem abastecimento de água encanada, coleta de lixo ou esgoto adequado.

Reafirmação étnica e urbanização

O Censo 2022 também identificou que 1,43% dos indígenas brasileiros declararam dupla etnia, um fenômeno mais comum entre jovens de até 29 anos.

Para o IBGE, esse dado reflete a crescente valorização das origens familiares e o reconhecimento da identidade indígena nas áreas urbanas.

A população indígena fora de Terras Indígenas urbanas passou de 324,8 mil pessoas (2010) para 844,7 mil (2022), um crescimento de 160%. Em Manaus, esse movimento é perceptível no fortalecimento das associações urbanas indígenas, nas quais povos Tikúna, Kokama e Sateré-Mawé atuam em conjunto pela preservação de suas tradições dentro da capital.

“Depois de anos de ocultação para lidar com o racismo, principalmente nas cidades, os povos indígenas passam a valorizar o pertencimento étnico. Declarar a própria etnia ao IBGE tornou-se um ato político e de reconhecimento”, ressaltou Marta Antunes.

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